Com dedicação total ao campo por toda uma vida, a produtora rural, Iolanda Gonzaga de Almeida Pacífico, juntamente com seu marido e filho, sempre viveram exclusivamente da atividade agrícola. Na última safra 2019/20 a propriedade da família, localizada em Rancharia, no Interior paulista, teve sua lavoura de soja atingida por uma longa estiagem, provocando perda total da produção.
Se não fosse o seguro rural contratado, certamente a agricultora e sua família teriam tido um ano desastroso, porque além de não poder pagar as prestações dos maquinários, não haveria dinheiro para continuar na atividade. “A ajuda que o Governo do Estado de São Paulo nos dá, para pagamento de parte do seguro, é crucial para que possamos acessar esse importante benefício”, diz a produtora.
O que tem tirado o sono da agricultora e de muitos outros produtores é que já se esgotaram os recursos estaduais disponibilizados para a subvenção do seguro rural da atual safra. Ou seja, devido à falta de ajuda do Estado para custear a contratação de seguro para esta safra, caso a produtora paulista e seus pares tenham algum sinistro novamente na lavoura, não serão assegurados, pondo em risco e comprometendo a perpetuidade na atividade e consequentemente a economia de São Paulo e do País.
O Programa de Seguro Rural apoia os produtores rurais que desejam proteger suas lavouras contra riscos adversos. Por meio da subvenção econômica ao prêmio do seguro rural, o Governo Federal apoia financeiramente àqueles produtores que contratarem essa modalidade de garantia, arcando com parcela dos custos de aquisição do seguro. No caso da subvenção Estadual, ela está inserida dentro do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap).
Até o momento, o Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Agricultura disponibilizou para o Programa de Subvenção Paulista o montante de R$ 51 milhões, verbas essas que não foram suficientes, pois foi inteiramente utilizado pelas seguradoras. Já o Governo Federal proporcionou um aumento de recurso de subvenção. Ano passado a disponibilização foi de R$440 milhões para todo o País e esse ano já houve a certeza de R$ 880 milhões, ou seja, um acréscimo de 102%. Ainda assim, mesmo com essa boa contribuição, o órgão busca incessantemente atingir a meta de R$ 1 bilhão.
Entretanto, desde início do ano os agricultores aumentaram a busca pelo seguro agrícola, com isso, no primeiro semestre houve um crescimento da ordem de 25%. Como o Governo do Estado de São Paulo posicionou somente o mesmo recurso do ano anterior e houve esse aumento de comercialização, os recursos não foram suficientes.
Somado a isso, este ano a conta para o produtor está mais alta. Segundo Antônio Américo de Aquino, produtor rural, corretor de seguros e membro da Comissão de Seguro Rural (Sincor-SP), em 2020 o custo do seguro aumentou muito. Primeiro pela redução de aproximadamente 12% da participação do Governo Federal em algumas culturas de verão e segundo pelo crescimento brutal dos insumos, principalmente os fertilizantes, ocasionados pela variação cambial.
O terceiro ponto foi o encarecimento do frete e por fim o aumento do prêmio líquido gerado pelo crescimento da importância assegurada. Tudo isso somado, leva a uma explosão da parcela do seguro paga pelo produtor. “Se nada mudar realmente o pequeno e o médio produtor não terão condições de assumir esse custo adicional referente a subvenção. Portanto, é fundamental pedir o apoio do governo estadual a liberar mais recurso. As seguradoras estão com um volume muito grande de propostas que não foram contempladas com a subvenção estadual e se nada acontecer os agricultores não terão dinheiro para pagar o boleto”, diz ele.
Outro fator de preocupação por todos são as previsões climáticas, que não são nada animadoras. Isso porque está ocorrendo com frequência muitas intempéries vindas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná. “Estamos em um ano de La Niña e que muito provavelmente tenhamos seca e granizo. Por isso, os produtores ficam preocupados em não terem a cobertura do seguro. Além disso, muitos não sabem que essa verba não existe mais, ele só vai descobrir quando chegar o momento de pagar essa proporção que é 32,5% do valor do prêmio”, salienta David Martin, corretor de seguros e membro da Comissão de Seguro Rural (Sincor-SP).
FONTE: AGROLINK (NOV/2020)